sábado, dezembro 16, 2006

Crônicas de um Passat 78


Sem Gasolina na via do Bi-articulado

Dedico esse texto ao Leo Sem Noção, que sempre foi um grande fã dos causos do Passatoso.

Era um insólito domingo de 2002 e fui ensaiar com a banda de rock da época em que estagiava na Bosch. O local era a casa da namorada do George, o então baixista, no quarto da avó (!) dela. Depois de finalizada a barulheira ele resolveu sentar em uma janela pra descansar um pouco e deu um “totozinho” em uma TV que estava do lado de dentro. Resultado: uma televisão de 29 polegadas aprendeu a voar e fez na seqüência um pouso forçado. Detalhe: era aniversário da garota! Fomos embora.

Como eu era o proprietário da bateria, da guitarra e do amplificador era eu quem os transportava. Adivinha aonde: no Passatoso, lógico. Deixei o batera Samuca perto do terminal de bus – acho que era o Capão Raso – e fui fazer o retorno pela República Argentina. A essa altura senti que algo estava estranho com o motor do Passat.

Em frente a um quartel tem um retorno, permitido, mas que é necessário andar alguns metros dentro da via do Bi-articulado. Confiante, apesar de tudo, dei seta e entrei. Porém o carro começou a morrer. Caralho, que hora pra isso acontecer! Forcei mais um pouco e nada. Nada? Eu estava com um carro relativamente pesado, carregado e estático dentro da via do expresso! Ok, nada de pânico, nada de borrar as calças. Abri a porta e me botei a empurrar o peso morto pra fora do alvo do bi-articulado. Por sorte era domingo e não estava movimentado o local. Parei em frente ao quartel e, desesperado, pedi ajuda para um oficial me ajudar a empurrar o carro para o estacionamento da rua. Com uma cara de pouco caso o guarda me ajudou a estacionar a máquina.

Precisava comprar gasolina para o bichinho e foi o que fiz. Problema: já eram umas 20:00 e eu estava com um carro sem seguro, num local suspeito, com um alarme fajuto e basicamente todo meu patrimônio dentro. Cheguei num posto que não recomendaria a ninguém e não tinha nenhum recipiente onde colocar a gasolina. Pra quem pretende ter um carro velho, principalmente se for beberrão, é um clássico recomendável ter uma garrafa de Coca-Cola 2 litros vazia no porta-malas. Por fim o pessoal do posto se propôs a me emprestar um daqueles galões de lavar o pára-brisa. Ia tudo bem até voltar ao carro. O bocal da gasolina ficava próximo à rua onde o trânsito começava a aumentar e o maldito galão era comprido, de forma que eu precisava ficar no meio da rua! Cada carro que passava era uma tirada com a minha cara: “Aí seu burro, olha o ponteiro de gasolina”, “Se fodeu seu trouxa, enche o tanque”, “Porque não pede pra tua mãe empurrar?”, etc.

Queria passar voando pelo posto e atirar o galão na cabeça do frentista, mas me contentei em ir pra casa sem ter levado nenhum cuspe dos motoristas engraçadinhos.