sexta-feira, outubro 24, 2008

Faltou luz, mas era noite.


A escuridão invadiu a sala. Mas era uma escuridão de silêncio também.
Aqui no prédio os moradores são na maioria solteiros ou aposentados, o que deu um toque sombrio ao momento. Nenhuma família conversando, apenas o escuro e o silêncio, ou solidão.

Entro no ap, ainda há um resquício da tempestade que arrancou a luz da noite. Dou uma olhada para ver se não há nenhum assaltante ou fantasma me fazendo companhia. Tento ligar a luz, um gesto mecânico, já que não há mais luz. Vou pegar uma vela.

Sento no sofá e vejo que minha vida tinha acabado também. Não havia TV, música, internet. Nem lavar a louça eu podia. Resolvo tomar um sorvete para meditar a respeito.

Pensei “preciso colocar este momento no papel”. Mas meu papel, o pczão, estava forçosamente desligado. De qualquer forma percebi que todo o sentimento não seria transposto do momento para o papel. Tomo mais uma colherada de sorvete.

Estava decidido: vou descer e ficar jogando conversa fora com o porteiro. Me dirijo às chinelas, mas era tarde. A luz havia voltado.

Ligo a TV e vou dar uma olhada nos emails.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Ensaio Sobre Cegueira x Linha de Passe

Ensaio sobre a Cegueira

Depois de fazer a crítica do livro, chegou a vez do filme. Então vem aquela velha história: é possível comparar filme com livro? Eu acho que não, mas das duas posso dizer qual mais gostei.
Foi o livro, mas porque achei o filme mal dirigido.

-Primeiro: o ator que abre o filme, o primeiro cego, um celebrado ator japonês, simplificando, se mostrou um bosta. Em momento algum conseguiu convencer. Culpa de quem? Do diretor, ora bolas. Começar o filme com o pé esquerdo é coisa de amador.
Tem um outro ator, o cego que já era cego antes do surto, o contador. Ele também escorrega várias vezes.

-Segundo: se as pessoas vão passar mal vendo este filme, não leiam o livro. A história é visceral, parece que você vai se atolando em um mar de cocô, literalmente. O chão vai ficando cada vez mais coberto de uma profusão infindável de merda. Por que não mostrar mais isso no filme? Ela dá um takezinho só no chão pra valer só uma vez, sendo que podia ter mostrado muito mais. Dá pra ir ver esse filme e levar as crianças, o pai, tranqüilo. Ok, nem tanto.

-Terceiro: cenas que são mal resolvidas. “Será onde acertou a tesourada? E o salto, crava mesmo na perna do infeliz?”. Mal dirigido ou excesso de sutileza, talvez, ruim com certeza.

Linha de Passe

Fui ver esse filme porque a atriz principal ganhou Cannes. Bom, um mau filme não podia ser. E não era, é um excelente filme. E olha só: o Walter Sales mandou ver, nada de amarelar.
Diversas cenas de moto em movimento, coisas tecnicamente difíceis de se resolver e o cara manda muito bem.

Alguma ressalva? A atriz. Ela não é tudo isso, aliás, em vários momentos achei meio fake a atuação. Em tempo: tem um moleque, o filho mais novo da personagem principal, deve ter uns 11 anos e atua como gente grande. Piá bão mesmo. O elenco em geral é muito bom.
Extremamente recomendado. Só um aviso, o final é aqueles finais que não resolvem toda a história. Pra quem gosta de finais tradicionais pode se decepcionar. Corre ver, que meio logo sai de cartaz!