sexta-feira, junho 26, 2009

Quando meu filho fizer três ou dez anos


Vou adorar aquela sua timidez que tão bem conheço. Aquela preferência por ficar perto da gente ao invés dos outros. Sua empatia pelo segurança do que está fechado, ou seja, nós. Mas também vou odiar essa quase incapacidade de confiar nos outros, sua dificuldade em dar um sorriso para quem acaba de chegar, seu pavor pelo desconhecido.

Claro vou achar lindo quando ele quiser ter um cachorro, ou gato, e amá-lo bastante, ao invés de maltratá-lo como boa parte dos meninos fazem para se divertir. Vou me emocionar quando ele perguntar embasbacado por que as pessoas estão matando umas às outras nos noticiários. Por outro lado vou ficar puto quando ele não souber reconhecer a maldade nos outros ou mesmo retribuí-la em boa medida quando for atacado por algum certo diabinho.

Acharei bastante maduro quando ele vier me pedir para comprar milhares de coisas no shopping e não fizer um escândalo e se debater chorando quando eu disser não. Mas depois irei refletir se isso não é apenas falta de vontade ou baixo interesse e pelas coisas, também conhecido como bunda-molice.

Suas notas na escola serão excelentes e os professores vão usá-lo como exemplo de bom aluno. Vou adorar assinar seu lustroso boletim com belíssimos resultados. Mas também ficarei muito preocupado ao saber que enquanto isso uma boa parcela dos alunos vai odiá-lo e hostilizá-lo por isso e provavelmente ele não vai saber se defender ou usar essa qualidade ao seu favor. Provavelmente ele vai achar que passar cola é algo errado e não uma possibilidade de se socializar.

Vou ficar feliz ao ver que seus cotovelos e joelhos não estarão constantemente estourados porque ele prefere ficar em casa desenhando ou inventando bricandeiras sozinho. Por outro lado vou achar que ele é muito cagão para pegar sua bicicleta ou skate e provar o gosto do asfalto.

Mas estranhamente, no fim, acho que vou amá-lo na maior parte do tempo.

sexta-feira, junho 12, 2009

Car Hunter


Descobri minha nova profissão. Funciona assim, você quer comprar um carro usado, mas não sabe por onde começar. Então você chama o Car Hunter. Eu vou junto e digo se o carro é joinha ou uma merda remendada ao meio com Durepoxi.

Pois bem, por enquanto é brincadeira, mas estou de verdade ajudando um amigo a comprar um carro usado. Vou contar dois acontecidos, bem medonhos.

1- Fomos a uma mega garagem, devia ter mais de 200 carros, não sei, eram muitos. Olhei basicamente todos e confesso que saí de lá quase passando mal. Por que? Amo carros e parecia que eu estava num filme de zumbis! TODOS que vi, menos os zero km, tinha sido repintados. A média eram carros reformados da pior forma possível, com acabamentos medonhos e peças de segunda. E tinha carro 2008 nesse estado.

2- Fomos a uma Concessionária VW (podia ser FIAT, etc) onde o nível dos usados é melhor. Quando meu brother foi a primeira vez, sozinho, a história é que seriam vários carros de uma frota, revisados, 2006, em perfeito estado. Convite para a família ver os carros, tudo lindo. Mas eis que surge a minha pessoa.

O primeiro que vi tinha sido repintado em várias partes com direito a respingo de tinta branca nos cintos de segurança e grade dianteira. Furos dos parafusos do pára-choque traseiro enferrujados e trincados. Esse era o carrinho bom. O ruim, o vendedor teve que admitir que não ia ser vendido ali de tão medonho (ia ser repassado para um garagista picareta qualquer). Bom, mas e se eu não tivesse aparecido? Será que o vendedor iria admitir que o carro estava ruim?

Ah, teve outra passagem linda. O carro mais bonito do pátio, filé total, tinha acabado de chegar. Perguntei o preço ao vendedor, mas ele mal sabia. Disse que queria comprar pra ele, mas não era papo de vendedor. Enquanto víamos as bombas, simplesmente o carro sumiu do pátio. Na volta perguntei ao tal vendedor e ninguém sabia de nada. Pareceu que foram guardar o tesourinho.

Um exemplo hipotético de como funciona o mercado da picaretagem: digamos que o carro valha pela tabela R$ 19mil. O garagista compra o carro batido por 9mil. Se ele fosse reformar direito, com um bom funileiro, peças originais, o conserto iria custar, digamos 7 mil. Total: 16 mil. Se ele vendesse o carro a 19 ganharia 3 mil. Estaria justo. Mas não, o cara reforma igual a bunda dele, usa peça de desmanche, de quinta categoria, gasta 4 mil e vende por bom e lucra o dobro. Ele é obrigado a dar 3 meses de garantia, e dentro disso a bomba não explode. Depois, boa sorte.

Mas e porque não levar a sério essa profissão, Car Hunter? Primeiro tenho amor a vida e esse negócio de usados é from hell, na boa. Segundo porque só entendo o básico de mecânica, não poderia garantir o carro 100%. Mas em duas visitas consegui suscitar ódio mortal dos vendedores. Não tem problema, é recíproco.

O foda da situação é que os bons carros, originais ou bem tratados, geralmente acabam na mão de pessoas malvadas e feiosas. E as pessoas de boa índole, que não são obrigadas a entender do negócio e só querem comprar seu carrinho, acabam muitas vezes comprando um câncer. Isso não está certo.

quarta-feira, junho 03, 2009

Sonho da Noite Passada


...eu estava andando em um local estranho, era parecido com mato, mas não haviam muitas árvores. Ao mesmo tempo acontecia minha festa de aniversário de 20 anos atrás. As crianças, inclusive o mini-eu, não percebiam, mas o local estava cheio de teias de aranha espalhadas estrategicamente entre as árvores.

Mas como as aracnídeas eram bem pequenas não me preocupei e resolvi sair dali. Comecei a me desembaraçar da trama de teias, mas, ao contrário da minha vontade, elas começaram a grudar. E as pequenas aranhas começaram a se dirigir à sua nova presa. Bate daqui, espanta de lá, e as pequeninas não paravam de vir. Um leve pânico torna-se desespero quando esmago uma aranha marrom que acaba de me picar.

Começo a correr, pessoas me oferecem ajuda e eu recuso dizendo que primeiro queria passar em casa. Corri.e corri. E comecei a cansar, a vista começou a embaçar. Paro um pouco para descansar. Corro mais um pouco e começo a apagar... não há mais ninguém para ajudar agora.

Olho pra frente, é um lugar bonito. Uma espécie de vale, em desnível, quase uma cratera cercada de árvores, com muita grama verdinha.

-Será que é isso, assim que termina? Pra não acabar de qualquer jeito, uma última e suculenta refeição pra vista? A puta que lhe pariste! Já vi coisa bem melhor, vou levantar e fugir daqui!

E fui embora em direção da...

(foto - SXC)